segunda-feira, 18 de junho de 2007

Vida Que Me Leva

Os outrora amigos, hoje banidos, sumidos e nunca mais vistos, são os cacos da esperança que eles mesmos quebraram e que ninguém conseguirá, em vida, juntar.
Tantas coisas que não queria já aconteceram e tantas coisas que não quero as vejo acontecer, que as lembranças se converteram nos restos dos quais se alimenta o espírito em sua busca incansável de não-se-sabe-o-quê.
Lembranças de pequenas batalhas vencidas, do ardor de suas queimaduras e do vôo de suas cinzas lançadas ao mar de uma vida que vai a deriva.
Quando o guerreiro é vencido, até mesmo em seu pedido de paz, só lhe resta declarar guerra a si mesmo e promover a mais solitária de todas as revoluções.
Cumprir, uma vez mais, o escrito que dita a todo e qualquer dissonante ou revolucionário que este começará, seguirá e chegará só ao final de cada uma de suas batalhas, terminando assim por perder toda guerra que comprar e, derrotado, nem sempre voltará, e se voltar, nem sempre encontrará comida no fogão, bênção, beijo ou espera no portão.
Assim mesmo é a vida: passa e seca.
Nadar, nadar e não morrer. A praia distante impõe ao sobrevivente da batalha vigente o desconforto do afogado, mas nunca o alívio da partida.
É água salgada na ferida. Coisas da vida que vai a deriva. Coisas de que ninguém se livra.
O vento que dava a direção, hoje só faz trazer destruição. O tormento de um impiedoso furacão de coincidências varrendo do mapa e da vida o que restava de sol.
O sol da ilusão eternamente eclipsado pela certeza da realidade que uns ainda ousam chamar maturidade.
Assim é que a vida passa e lesa.
Sem honras nem méritos, o tempo voa enquanto a vida caminha a passos de tartaruga coxa.
O gosto de glórias e conquistas passadas se torna, a cada dia, mais e mais amargo e intragável.
Dias, semanas, meses, anos e até séculos passam, mas vida parece que não. Eterno recomeço que já é findo.
O tic-tac, antes do relógio, agora é o alarme da bomba armada pelo tempo: 37, 38, 39, 40, aqui não há contagem regressiva.
Vida que vai a deriva. Vida que passa e se encerra, me leva.