quinta-feira, 21 de junho de 2007

Devo e não nego

Posição ingrata e desconfortável essa que me obriga a exercer um equilíbrio que não é natural da minha personalidade, que me enfastia soberanamente. Mas, apesar de tudo e de todos, devo prosseguir.
Devo isso a mim mesmo, aos meus pais, amigos e parentes. Ao banco e à síndica do predinho de três andares o qual habito. É ela quem recebe o condomínio.
Devo ao espelho, que todas as manhãs me cobra impiedosamente.
Devo ao travesseiro, que noite trás noite me enche de perguntas para as quais pelejo, mas não encontro respostas.
Devo à minha consciência, que teima em se sentir suja e que, por mais esguia, insiste em pesar cada dia mais.
Devo aos anos passados tudo o que poderia ter feito e não fiz.
Devo ao futuro que espera de mim algo que, muito provavelmente, não farei.
Devo à minha cachorra, que a mim dedicou amor incondicional ao qual não tive lastro para retribuir.
Devo à minha ex-mulher. A ela devo quase tudo o que sou de bom. E também algo de ruim.
Devo desculpas aos meus avós cuja vida e morte ignorei. Ao meu pai devo o esforço, o suor e o sêmen derramado em vão. À minha mãe, devo pagar o preço da decepção. Ao meu falecido irmão devo reverências. Ao meu psiquiatra não devo nada. Já paguei e caro.
Parafraseando um reconhecido jornalista, diria que: quem não deve, não tem. Portanto, prosseguir significa continuar devendo sem poder pagar, continuar sendo cobrado muito além da conta.