Preferência
É preferível viver com
a dor da solidão,
a deitar-se com a mágoa
da desilusão.
Neste espaço é publicado de tudo um pouco e em vários formatos. Essa foi uma maneira que encontrei de tentar entender o que acontece comigo, de dividir sensações, sentimentos e experiências. Aqui você vai conhecer uma pessoa de verdade, cheia de dúvidas, desejos e contradições. Um menino que não se cansava de ter esperança. Um adulto que luta para não deixar de ser esse menino.
É preferível viver com
a dor da solidão,
a deitar-se com a mágoa
da desilusão.
Posted by Rubens Guarnieri at 09:21
Posição ingrata e desconfortável essa que me obriga a exercer um equilíbrio que não é natural da minha personalidade, que me enfastia soberanamente. Mas, apesar de tudo e de todos, devo prosseguir.
Devo isso a mim mesmo, aos meus pais, amigos e parentes. Ao banco e à síndica do predinho de três andares o qual habito. É ela quem recebe o condomínio.
Devo ao espelho, que todas as manhãs me cobra impiedosamente.
Devo ao travesseiro, que noite trás noite me enche de perguntas para as quais pelejo, mas não encontro respostas.
Devo à minha consciência, que teima em se sentir suja e que, por mais esguia, insiste em pesar cada dia mais.
Devo aos anos passados tudo o que poderia ter feito e não fiz.
Devo ao futuro que espera de mim algo que, muito provavelmente, não farei.
Devo à minha cachorra, que a mim dedicou amor incondicional ao qual não tive lastro para retribuir.
Devo à minha ex-mulher. A ela devo quase tudo o que sou de bom. E também algo de ruim.
Devo desculpas aos meus avós cuja vida e morte ignorei. Ao meu pai devo o esforço, o suor e o sêmen derramado em vão. À minha mãe, devo pagar o preço da decepção. Ao meu falecido irmão devo reverências. Ao meu psiquiatra não devo nada. Já paguei e caro.
Parafraseando um reconhecido jornalista, diria que: quem não deve, não tem. Portanto, prosseguir significa continuar devendo sem poder pagar, continuar sendo cobrado muito além da conta.
Posted by Rubens Guarnieri at 09:19
Alimentar expectativas é perigoso:
elas crescem, engordam e te devoram.
Por outro lado, não alimentá-las
é tedioso e quase sempre dá na mesma.
Posted by Rubens Guarnieri at 11:40
A necessidade fez de mim um covarde
A falta de coragem fez de mim um fraco
A fraqueza fez de mim um homem triste
A tristeza fez de mim um homem duro
A dureza fez de mim um homem só
A solidão fez de mim um homem
O homem fez de mim seu escravo
O escravo fez de mim seu feitor
O feitor fez de mim seu açoite
O açoite fez de mim seu grito
O grito fez de mim seu choro
O choro fez de mim sua criança
A criança fez de mim sua brincadeira
A brincadeira fez de mim sua graça
A graça fez de mim sua gargalhada
A gargalhada fez de mim sua vítima
A vítima fez de mim sua alma
A alma fez de mim seu refúgio
O refúgio fez de mim um prisioneiro
O prisioneiro fez de mim o escuro
O escuro fez de mim um medroso
O medroso fez de mim um fugitivo
O fugitivo fez de mim um desconhecido
O desconhecido fez de mim seu inimigo
Posted by Rubens Guarnieri at 10:53
O pessoal por aí não se cansa de bravatear que quanto menor o texto, melhor, porque quem escreve muito não sabe exatamente o que quer dizer e outras invencionices e disparates do tipo.
Coisa de quem é pouca prática ou de quem nunca abraçou o verbo escrever como sendo sua profissão de fé.
Um sorriso, um aceno, um dedo em riste, uma lágrima, até um trupicão é um texto curto.
Texto curto é expressão. Comunicação é diferente. Exige mais tempo e espaço, tanto de quem lê quanto de quem escreve.
Aliás, este texto já está maior do que era para ser exatamente porque tento aqui comunicar um pensamento com o qual você, que está aí lendo, poderá concordar, discordar e até me xingar. Não estou pura e simplesmente querendo expressar uma idéia através de uma frase de efeito, que me faça parecer um cara esperto e mordaz.
Para encerrar o assunto, peço licença, convido e dou passagem ao mestre Millôr Fernandes que já disse:
- Os chineses inventaram, e tudo que é bobo repete, que uma imagem vale mais do que mil palavras. Agora tente dizer isso sem palavras.
Posted by Rubens Guarnieri at 10:17
Para muitas perguntas,
o silêncio ainda continua sendo
a única resposta plausível.
Posted by Rubens Guarnieri at 09:02
Chegará o dia em que nunca terei sido só
Chegará o dia em que terei grandes e velhos amigos
Chegará o dia em que meus erros serão justificáveis
Chegará o dia em que meus acertos serão memoráveis
Chegará o dia em que meus desafetos se curvarão
Chegará o dia em que não terei mais críticos
Chegará o dia em que tudo o que fiz terá valido a pena
Chegará o dia em que todos desejarão meu bem
Chegará o dia em que vozes não mais me difamarão
Chegará o dia em que terei sido um bom menino
Chegará o dia em que terei sido um homem sério
Chegará o dia em que terei sido um grande profissional
Chegará o dia em que meu caráter será reconhecido
Chegará o dia em que dirão que nunca fiz mal a ninguém
Chegará o dia em que todos me olharão com algum respeito
Chegará o dia em que todos a mim devotarão compaixão
Chegará o dia em que tudo o que eu disse será verdade
Chegará o dia em que tudo o que disseram será mentira
Chegará o dia em que abrirão caminho para eu passar
Chegará o dia em que me carregarão até meu leito
Chegará o dia em que terei ido ainda cedo demais
Chegará o dia em que voltarei a ser jovem
E neste dia, eu não chegarei
Posted by Rubens Guarnieri at 08:55
Os outrora amigos, hoje banidos, sumidos e nunca mais vistos, são os cacos da esperança que eles mesmos quebraram e que ninguém conseguirá, em vida, juntar.
Tantas coisas que não queria já aconteceram e tantas coisas que não quero as vejo acontecer, que as lembranças se converteram nos restos dos quais se alimenta o espírito em sua busca incansável de não-se-sabe-o-quê.
Lembranças de pequenas batalhas vencidas, do ardor de suas queimaduras e do vôo de suas cinzas lançadas ao mar de uma vida que vai a deriva.
Quando o guerreiro é vencido, até mesmo em seu pedido de paz, só lhe resta declarar guerra a si mesmo e promover a mais solitária de todas as revoluções.
Cumprir, uma vez mais, o escrito que dita a todo e qualquer dissonante ou revolucionário que este começará, seguirá e chegará só ao final de cada uma de suas batalhas, terminando assim por perder toda guerra que comprar e, derrotado, nem sempre voltará, e se voltar, nem sempre encontrará comida no fogão, bênção, beijo ou espera no portão.
Assim mesmo é a vida: passa e seca.
Nadar, nadar e não morrer. A praia distante impõe ao sobrevivente da batalha vigente o desconforto do afogado, mas nunca o alívio da partida.
É água salgada na ferida. Coisas da vida que vai a deriva. Coisas de que ninguém se livra.
O vento que dava a direção, hoje só faz trazer destruição. O tormento de um impiedoso furacão de coincidências varrendo do mapa e da vida o que restava de sol.
O sol da ilusão eternamente eclipsado pela certeza da realidade que uns ainda ousam chamar maturidade.
Assim é que a vida passa e lesa.
Sem honras nem méritos, o tempo voa enquanto a vida caminha a passos de tartaruga coxa.
O gosto de glórias e conquistas passadas se torna, a cada dia, mais e mais amargo e intragável.
Dias, semanas, meses, anos e até séculos passam, mas vida parece que não. Eterno recomeço que já é findo.
O tic-tac, antes do relógio, agora é o alarme da bomba armada pelo tempo: 37, 38, 39, 40, aqui não há contagem regressiva.
Vida que vai a deriva. Vida que passa e se encerra, me leva.
Posted by Rubens Guarnieri at 08:29
O despertador fez mmmirT
O relógio batia caT-ciT, caT-ciT
O passarinho cantava uiP-uiP
O cachorro latia uA-uA
O gato miava uaiM
O mosquito zunia muuuZ
A campainha fez gniD-gnoD
A criança chorou áááuB- áááuB
A tosse coçava foC - foC
A buzina tocava moF- moF
A chuva caia áááuhC
A moça disse uahcT, uahcT
A televisão fez milP-milP
A vaca mugiu úúúM
A galinha fez óC-iR-ócóC
A cabrita berrou éééM
A menina falou iU-iU
A moça disse uahcT, uahcT
O raio caiu mubaK
O sirene soou óóófiF-óóófiF
O mal expulsou mihctA
O menino sentiu iA-iA
O carro se foi mmmurV
O bater da porta coT-coT
A vida está de trás para frente
Ou eu virei do avesso
Posted by Rubens Guarnieri at 08:29