O Extraordinário
Ficarei feliz o dia, e se, conseguir pensar e escrever como fala João Ubaldo Ribeiro, ao vivo e de improviso, em uma rede de TV por assinatura. Calçando sandálias, vestindo bermudão, camisa social com mangas arregaçadas e peito aberto, o homem é um nobre. Esbanja carisma, inteligência e transpira emoção. É de uma nobreza incomum, imortal. Claro, exato, contundente, um soberano na arte de articular também a palavra falada. O jeito não lhe nega a raça, é baiano. Enquanto fala faz gestos amplos, mas sem espalhafato, apenas o indispensável para a eficiência da narrativa. Parece estar sempre à serviço da expressão, do drama. No olhar, força suficiente para atravessar as grossas lentes do inconfundível, superdimensionado e inseparável par de óculos. Para Ubaldo Ribeiro, este João, não há papas: na língua nem no Vaticano!
É católico confesso, mas apenas por culpa e pura educação.
Quando perguntado sobre religião, arte ou política, responde com a mesma picardia e fluência com as quais discorre sobre sua vida sexual. Destila bons e maus humores, rebate qualquer pergunta com efeito indefensável. Surpreende até mesmo quando repete a mesma palavra, várias vezes, durante os quatro blocos da entrevista: extraordinário. Coisa de gênio!